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Um dos grandes dilemas cervejeiros: Garrafas ou Latas

Um dos grandes dilemas cervejeiros: Garrafas ou Latas

Durante muito tempo (e até hoje isso permanece em discussão!) questiona-se o uso de garrafas ou latas no acondicionamento de cervejas. Muitos consumidores acreditam que cervejas em garrafas são melhores que latas, que o sabor muda, que há uma diferença considerável entre os dois. Vamos fazer um comentário, e neste não haverá um bom e um mal, mas buscar evidenciar alguns mitos e algumas verdades sobre garrafas e latas.

Historicamente, a forma de armazenamento de cerveja vem evoluindo ao longo do tempo. Nos primórdios, a armazenagem de cervejas era realizada em grandes tinas de cerâmica. Com o avanço do sistema comercial, a cerâmica deixou de ser utilizada devido a sua fragilidade e peso. Considerando a expansão comercial, a madeira passou a ser o principal material utilizado para esse fim. Mais resistentes e maleáveis, a armazenagem em madeira permitiu que a cerveja pudesse ser comercializada além-mar.

Formatos específicos, que influenciam no aroma e no sabor, e o impacto visual de rótulos, rolhas e adornos são aspectos peculiares das garrafas (The Full Pint)

Particularidades

Gradativamente, as formas de acondicionamento de cervejas foram se ajustando aos propósitos até que chegamos às garrafas e latas que temos hoje nas prateleiras. As garrafas, então, se firmaram como principais formas de acondicionar a cerveja, devido a algumas particularidades inerentes a elas, e por – de certa forma – possuírem os seguintes pontos:

  • As garrafas de cor âmbar (para proteção da luz) se formaram como identidade da cerveja, criando-se diversos formatos de acordo com os perfis de cada estilo cervejeiro. Por exemplo, é possível encontrar cervejas belgas em garrafas com pescoço abaulado, pois o impacto do aroma é deveras importante;
  • Alguns processos voltados para estilos específicos são realizados estritamente em garrafas, como é o caso da produção de cervejas no estilo Bier Brut, para as quais é utilizado o método Champenoise (mesmo da produção de champangne);
  • Cervejarias utilizam rolhas no fechamento de suas cervejas e/ou adornam garrafas com suas logomarcas ou com algum elemento figurativo particular, por uma questão visual.

Vantagens

A latas ganharam maior presença no mercado de cervejas artesanais mais recentemente. Mas o que levou ao aparecimento, diga-se “explosivo”, de latas? Na minha opinião, o aparecimento das latas no mercado cervejeiro artesanal se deu por conta do movimento ainda mais comercial que vem acontecendo ao longo dos anos. As latas possuem vantagens em relação às garrafas, dentre as quais cito:

Eleita três vezes a melhor cervejaria do País, a Dogma faz sucesso com suas cervejas armazenadas em latas de 473ml (Medium.com)
  • Por serem mais leves que as garrafas, as latas reduzem o custo de transporte;
  • São mais resistentes a choque mecânicos que as garrafas, evitando prejuízos por quebra de recipiente, dado ao acondicionamento e a movimentação na logística;
  • Por fato de serem opacas, as latas possuem maior proteção contra os efeitos que a luz exerce sobre a cerveja, permitindo que o produto mantenha-se estável por mais tempo (Opa!). Grande parte do mercado cervejeiro brasileiro, em nível comercial, é formado por estilos cervejeiros que não sofrem – ao contrário, se beneficiam – com o acondicionamento em latas (é o caso das IPAs);
  • No quesito sustentabilidade, as latas de alumínio possuem vantagens superiores a garrafas em vidro.

Custos

Porém, se as latas possuem benefícios para as cervejas, por que ainda são pouco comercializadas? Acredito que a justificativa reside, em grande parte, no custo do envase, já que não há muitas empresas produtoras de latas voltadas para o mercado cervejeiro artesanal. A maioria é destinada diretamente às grandes cervejarias e fabricantes de refrigerantes. Proporcionalmente, o custo do envase em garrafa (R$/ml) ainda é menor que em latas. Talvez, por isso, ainda se observe um grande número de garrafas.

No entanto, se for observar o custo total, nos casos de projetos de negócios que envolvam o custo de transporte, cubagem de armazenamento e outros custos logísticos, as latas são mais vantajosas. Aí vem a pergunta mais esperada para esse artigo (creio eu!):

E quanto ao perfil sensorial? Há mudança?

Seguindo uma opinião particular, bem como de blogs e artigos voltados para as cervejas, os quais abordavam o tema, “as duas cervejas”, no instante do envase, são as mesmas. Ou seja, não há qualquer alteração de aroma e sabor das cervejas vinculado aos seu processo produtivo. As mesmas passaram necessariamente pelo mesmo processo de fabricação e maturação.

Porém, segundo o mestre cervejeiro Paulo Schiaveto, citado em matéria publicada por Maurício Beltramelli para o Blog Brejas, em 1º de dezembro de 2008 (notem em quando fui buscar essa informação!), a diferença principal está no instante do envase. Em alguns casos (e não em todos os casos, diga-se de passagem!), as cervejas envasadas em garrafas são um pouco mais carbonatadas – cerca de 5% a 10% superior – que suas contrapartidas em latas. Isso, devido ao fato de as tampas não serem um isolamento perfeito e permitirem que haja trocas gasosas.

Assim, as cervejas em garrafas, além da luminosidade, sofrem com a oxidação mais rapidamente que as cervejas envasadas em lata.

Gabriel Mascarenhas, mestre cervejeiro

Dessa forma, eventual alteração de perfil sensorial da cerveja acondicionada em garrafa ou em lata é motivada pela “degradação” química, a qual se dá mais rapidamente em garrafas (em alguns casos, até de forma proposital, como é o caso de cervejas de guarda) do que em latas.

Então, meus caros amigos e cervejeiros, espero ter deixado algum esclarecimento sobre essas questão das latas e garrafas, ter apresentado os prós e contras do acondicionamento e, claro, ter deixado margem para mais estudos.

Foto de capa: Kat Bryant Photography

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Conteúdo rastreado pelo Radar Bebendo com Amigos. Originalmente postado por /Cerveja na Bahia

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