Cultivado em Minas, uma espécie de lúpulo 100% brasileiro pode revolucionar o mercado de cerveja artesanal. E mais: tem potencial para reduzir o preço do ouro líquido nas gôndolas dos supermercados em cerca de 5%, já no curto prazo.
A título de comparação, o quilo do lúpulo seco importado custa R$ 400, em média. O quilo do produto fresco, no entanto, sai por metade do preço.
Como o insumo utilizado na bebida era exclusivamente importado, especialmente da Europa e da Nova Zelândia, não era possível trazê-lo fresco. Os produtores, portanto, ficavam refém da variedade seca, cenário que começa a mudar.
Vale ressaltar que a planta responde por aproximadamente 10% do custo da bebida.
Exigências
O motivo de o lúpulo não ser cultivado em solo nacional há até pouco é simples. A planta, uma trepadeira cuja flor é responsável por garantir o aroma e amargor característicos da cerveja, precisa de muito sol e frio, matéria orgânica abundante e tem preferência pelas regiões temperadas. O solo tropical brasileiro, portanto, não é propício ao cultivo.
Adaptação
Para driblar a natureza, há alguns anos pesquisadores tentaram fazer com que o insumo se desenvolvesse no país, sem sucesso. Um dos mais famosos estudiosos do assunto, Rodrigo Veraldi, conseguiu produzir diversos tipos de lúpulo em estufa. Em seguida, levou as mudas para o campo.
Elas sobreviveram por algum tempo, mas depois secaram. Veraldi chegou a desistir do projeto. Depois de um tempo, voltou ao local e encontrou uma planta viva. Era um híbrido, que foi batizado de “lúpulo Mantiqueira”, local onde ela foi naturalmente desenvolvida.
Resistente ao solo e ao clima brasileiros, o lúpulo Mantiqueira tem suas particularidades. Enquanto a planta internacional cresce cerca de um metro por mês, o híbrido nacional desenvolve cinco metros em dois meses, mais do que o dobro.
Plantação em Minas
O produtor de graviolas Pedro Salim, da Fazenda Fartura, em Rio Espera, gostou da história e resolveu apostar no negócio. Ele comprou mil mudas e as plantou em uma área de 1 mil metros quadrados. “É uma espécie com melhoramento genético natural. A flor é maior, com aroma diferente e muito saborosa”, diz Salim.
Mais uma vez, o acaso falou mais alto. A 30 km da plantação, em Santana dos Montes, está localizada a microcervejaria Loba. Em uma parceria com Salim, o proprietário da empresa, Aloísio Rodrigues, decidiu testar o lúpulo nacional. O primeiro teste foi realizado no ano passado, com 100 garrafas. “O resultado foi melhor do que o previsto”, afirma Rodrigues.
Último teste
Agora, surgiu a oportunidade de realizar uma produção em nível industrial para análise da eficácia e qualidade do produto.
O “lúpulo Mantiqueira” colhido na Fazenda Fortuna foi utilizado na produção de 500 litros da Mantiqueira Experimental Beer, rótulo da Loba. A cerveja estará pronta para o consumo após 21 dias, prazo que se esgota esta semana.
Caso o resultado seja satisfatório, a bebida será comercializada. “Estamos muito confiantes”, diz Rodrigues.
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