Existe uma mudança acontecendo com a cerveja. Conforme centenas de novas marcas ocupam as prateleiras, os consumidores são bombardeados com mais opções do que nunca. Mas, essa mudança, pelo que vemos, tem uma consequência, pois toda ação tem uma reação.
Cervejarias e amantes da cerveja podem estar celebrando essa era dourada da cerveja, com novas IPAs, Witbiers, Sours e tantos outros estilos toda semana, mas, existe um número crescente de rótulos que estão gradativamente sumindo.
Algumas cervejas consagradas, porém, não mais relevantes aos padrões atuais, tendências e gostos, estão desaparecendo. Isso é resultado das rápidas inovações promovidas pelas cervejarias para atender os anseios dos consumidores, sempre querendo experimentar novos sabores. Porém, isso pode custar os amados rótulos que levaram essas cervejarias a esse patamar.
“Algumas vezes, quando você chega com algo novo e excitante, precisa considerar retirar uma marca que já não é mais nova e excitante quanto a que o seu time de cervejeiros criou”, diz Ben Savage, responsável pelo departamento de marketing da cervejaria Flying Dog. “É uma estratégia calculada, quanto mais flexível você é, mias você é capaz de se adaptar às mudanças da indústria”, completa Ben.
A situação da Flying Dog não é única. Nos últimos anos, muitos concorrentes enfrentaram a mesma situação. É quase como perder um amigo, algumas vezes, descontinuar uma cerveja não é fácil, tanto para o consumidor, quanto para seus criadores.
Algumas vezes, as forças por trás da mudança no portfólio de uma marca não são feitas pelo homem e, sim, pela natureza.
Nos anos de 2011 e 2012, Jeremy Kosmicki, da Founders Brewing Co., precisou se adaptar após uma série de geadas destrutivas que arrasaram com cerca de 90% da plantação de cerejas do estado do Michigan, nos Estados Unidos, fazendo com que o rótulo Cerise, que levava cereja, fosse descontinuado em 2013. “Foi um lembrete de que trabalhamos em uma indústria onde os produtos agrícolas mudam, tanto em disponibilidade, quanto em qualidade”, afirmou Kosmicki. “Você sempre precisa ser flexível”, completa ele.
Até que a morte os separe
Para alguns, passar por algo como isso pode significar perder um bom amigo, mesmo que essa relação seja com a cerveja rsrs.
Em 29 de novembro de 2013, Dave Thibodeau, presidente e fundador da Ska Brewing Co., colocou para descansar um de seus mais antigos amigos, a Ten Pin Porter. Junto com seus amigos da Ska, ele cavou um buraco no canto sul do jardim da cervejaria, na cidade de Durango, no Colorado, Estados Unidos, e enterrou, em um pequeno caixão customizado, uma garrafa de sua tão amada Porter, produzida desde 1996. “É realmente difícil deixar uma cerveja que você fez durante toda sua carreira, mas, talvez seja a decisão correta”, diz Dave.
Vida após a morte
Enquanto algumas cervejarias recentemente disseram adeus para algumas de suas cervejas, uma trouxe de volta à ativa um de seus rótulos.
Em agosto de 2015, a cervejaria Samuel Adams anunciou a vencedora do “Brewer’s Vault”, uma votação que permitiu que os consumidores escolhessem um dos 16 rótulos descontinuados para voltar à linha de produção. Após alguns meses e mais de 27.000 votos, a Scotch Ale, de 1995, foi a vitoriosa, para a alegria de Jim Koch, presidente da Boston Beer, empresa parente da Samuel Adams, que lembrava da receita com carinho. “A cerveja ocupa um espaço único e especial na vida das pessoas, como parte de momentos especiais. Essa conexão entre a cerveja e bons momentos a torna muito mais pessoal, e vai além do que está no copo”, afirma Jim.
“Como cervejeiro, você cria uma cerveja, manda-a para um mundo frio e a deixa para adoção, esperando que as pessoas apreciem o trabalho contido nela, pois você nunca sabe se aquela cerveja terá a mesma chance novamente”.
Portanto, aprecie sua cerveja preferida enquanto ela está em produção, pois, a qualquer momento, seguindo os movimentos e tendências mercadológicas e comportamentais, ela pode cair em esquecimento, talvez para nunca retornar…
