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DIÁRIO DA QUARENTENA: DEGUSTAÇÃO DE CERVEJAS COM KVEIK

DIÁRIO DA QUARENTENA: DEGUSTAÇÃO DE CERVEJAS COM KVEIK
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Nestes dias de quarenta, o Blog Lupulado irá publicar uma série de resenhas sobre as cervejas que degustamos durante o período de confinamento. A primeira matéria aborda rótulos que utilizam a levedura Kveik. O número de marcas no Brasil, que optaram por usar este insumo, cresceu vertiginosamente nos últimos dois anos.

 

DIÁRIO DA QUARENTENA: DEGUSTAÇÃO DE CERVEJAS COM KVEIK

Desafio lançado na quarentena: Sequencia de cervejas com levedura Kveik

Historicamente, Kveik é uma das muitas terminologias adotadas da Noruega para se referir às leveduras, dentre elas as cultivadas em  pequenas fazendas onde cervejas são produzidas de forma artesanal, as chamadas Norwegian Farmhouse Brewery. Com o passar dos anos, Kveik passou a ser o nome usado para designar as leveduras provenientes dessas fazendas, carregando em si traços culturais heterogêneos e relacionados às comunidades.  A heterogeneidade pode ser percebida considerando que a Kveik possui diversas linhagens, normalmente conectadas pelo nome à família ou fazenda que a produziu; é o caso da “Voss Kveik”, usada na produção da Nibelungo, rótulo da cervejaria Motim que já foi tópico aqui no Blog Lupulado. .A sua relação cultural com as comunidades emerge deste aspecto, pois a Kveik é um produto de agricultura familiar e os segredos de cultivo, armazenamento e uso eram passados de geração para geração. Existem registros datados de 1621 documentando que, na Noruega, a Kveik era armazenada em anéis de madeira, chamados Kveikstokkers, capazes de conservar a levedura por até um ano.

Outro fator cultural importante na Noruega e alguns países vizinhos (exceto a Dinamarca), que estimula a produção caseira  e familiar de cervejaria, é o rigor no comércio de bebidas no país. Nos supermercado e cervejarias, só é permitido venda de rótulos com até 4,6% de ABV; caso a pessoa deseje uma cerveja mais forte, deve comprar nas taprooms ou nas lojas do governo chamadas Vinmonopolet, onde a política de vendas é extremamente rigorosa e controlada. Desta forma, as cervejarias norueguesas costumam vender insumos para produção de cerveja, além produtos temáticos; portanto é comum encontrar clientes  nas cervejarias clientes em busca de lúpulos, maltes, leveduras etc.

Sede da cervejaria Lervig em Stavanger, Noruega.

Atualmente, a Kveik pode ser encontrada tranquilamente no Brasil. O cervejeiro da Motim, Salo Maldonado, disse anteriormente em entrevista ao Blog Lupulado que “hoje em dia é fácil adquirir nas lojas de insumos e fornecedores. Os dois maiores fornecedores de leveduras líquidas estão com pelo menos uma linhagem de Kveik em produção”. Para o gerente de vendas da Bahia Malte, Alan Reis, “a oferta das Kveik no Brasil tem melhorado bastante nos dias atuais; na Bahia Malte trabalhamos com duas cepas, a Hornidal e a Voss, que estão sempre disponíveis por aqui na loja”.

Degustando Staerk Bayer, um dark lager com 9,5% de ABV e 32 IBU na Taproom da Cervejaria Mack Bryggeri em Tromsø, Noruega.

“As Kveik representam certa facilidade para os cervejeiros, por que não precisam de um controle tão especifico de temperatura, o que  permite diversificar os ambientes de fermentação. Por exemplo, a sala da sua casa pode se tornar um ambiente de fermentação, já que o range de temperatura dela é mais alto… o tempo de atenuação desta levedura na cerveja é bem mais rápido também. Aqui na Bahia Malte, a gente já soube de casos de cervejas que atenuaram em 2 dias, fazendo o tempo de produção diminuir e permitindo que os cervejeiros produzam mais levas em intervalos menores”, complementou Alan.

Tiago Lima, cervejeiro da Bionica HomeBrew, exibindo duas novas criações.

Tiago Lima, cervejeiro da Biônica HomeBrew, usou este insumo recentemente disponível na Bahia Malte em algumas de suas receitas. “Ao todo fiz seis cervejas usando Kveik, dentre elas uma IPA combinando lúpulos citra e mosaic com a Kveik; duas stouts com a mesma base, sendo uma com essência de côco; fiz também a Supreme, umas das mais pedidas, em que usei café da Chapada Diamantina. Fiz também um experimento com duas APAs, uma mais seca, frutada e a outra mais amarga, cítrica”, disse Tiago. “Fermentei todas essas cervejas na mesma temperatura, 26 graus. Para mim, esta levedura é a melhor em eficiência alcoólica; a cerveja também fica sem off-flavor, ou pelo menos os off ficam bem menos perceptíveis. Algumas cervejas ficam mais secas que o esperado, porém este é um fator que pode ser corrigido e não chega a ser um aspecto negativo”, concluiu.

Abrindo latas e garrafas com Kveik

As cervejas abaixo foram escolhidas a partir do estoque que eu tinha em casa durante a quarentena, considerando apenas um parâmetro: O uso da levedura nas receitas. Alguns desses rótulos podem ser encontrados em lojas online, como a Vitrine da Cerveja, Cerveja Salvador, BeerMind, além da própria Bahia Malte que estão fazendo entregas em domicílio durante a quarentena provocada pela COVID-19. Os dois copos foram escolhidos para homenagear duas cervejarias que visitei na Noruega: Lervig, que fica na cidade de Stavanger, e Mack Mikrobryggeri, localizada em Tromsø.

Nibelungo, Collab entre as cervejarias Motim e Cevaderia

A primeira cerveja da sequencia com a Supreme, da Biônica HomeBrew, com coloração escura, uma Brown Ale bem maltada e leve (6,1%ABV), amargor médio (33 IBU) e com notas de café da Chapada Diamantina. A segunda cerveja da sequencia foi outra bem leve, a NE APA Nibelungo (5,6ABV e 35 IBU), collab das cervejaria Motim e Cevaderia, que recentemente foi tópico aqui no Blog Lupulado.

Supreme, da cervejaria baiana Bionica Homebrew

A terceira cerveja foi a Ovrebust (6,7 ABV e 40 IBU), uma kveik IPA da cervejaria Thirsty Hawks, que também apareceu por aqui durante nossa cobertura do Mondial de La Biere Rio – 2019; vencedora da medalha de ouro naquela edição, a Ovrebust apresentou sua tradicional coloração turva, além de resíduos de aveia; cerveja bem sucada, corpo aveludado, no aroma notas de melão, laranja e abacaxi.

Ovrebust, que ganhou medalha de ouro no Mondial de Lá Biere no Rio de Janeiro de 2019.

A Avrake, Kveik Juicy IPA também feita pela Thirsty Hawks, foi a quarta cerveja que provamos. Apresentou aquele aroma proeminente de Galaxy, bem cremosa, cor turva; corpo sedoso, amargor acentuado (45 IBU), suculenta com gosto de Maracujá e Toranja, com aveia sobrando no retrogosto, assegurando uma boa drinkability (6,5 ABV).

Avrake da Thirsty Hawkins

O quinto rótulo da sequencia foi o que mais surpreendeu: Fuça, uma Kveik Juice Rye IPA, da cervejaria Latido Ale House. Como o nome sugere, a cerveja foi feita om malte de centeio, além da adição de dois lúpulos, loral e ekuanot, em duplo dry-hop. No aroma, notas de laranja e tangerina, com maior presença da primeira, cor turva e amargor acentuado (50%). O aspecto mais interessante desta cerveja foi a sensação de boca, viscosa e licorosa (7% ABV).

Grata surpresa: Fuça, uma criação da cervejaria latido (RJ)

Referências:

http://www.milkthefunk.com/wiki/Kveik

Conteúdo rastreado pelo Radar Bebendo com Amigos. Originalmente postado por /Lupulado

Luiz Adolfo Andrade

Jornalista e pesquisador, estudioso de cerveja artesanal e cultura digital. Apreciador de IPAs e games, edita o Blog Lupulado deste 2018.

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