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É necessário estudar para degustar cervejas?

É necessário estudar para degustar cervejas?
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Saudações, cervejeiros estudiosos!

Todos os meus textos que eu dou início com uma indagação eu gosto de deixar a resposta de pronto registrada.

Seguindo a trilha, é necessário estudar para degustar cervejas?

Sim!

É a resposta, curta e grossa. Mas, claro, se todo texto fosse simplório assim ele nem existiria. Afinal, é necessário argumentar em prol do sim, e não apenas estabelece-lo como uma verdade absoluta e que preceda qualquer forma de argumentação.

Na verdade, eu preciso “corrigir” o sim categórico. Se a noção de degustar se difere da concepção do senso comum de “beber uma cerveja” ou apenas “tomar uma”, em suas bases mais coloquiais. O sim é peremptório.

Contudo, caso o degustar seja um ato meramente descompromissado, equivalente a beber ou tomar, então, o não se torna realidade.

É verdade, para simplesmente beber uma cerveja na praia, em um copo Stanley, ou em qualquer outro copo sujo, é desnecessário estudar para degustar.

Claro que, se estivermos falando de uma cerveja de maior qualidade, que custe mais uns trocados, é bem provável que quem esteja “degustando” sem estudar esteja também jogando dinheiro fora. Mas, aí seria um papo para outro texto e outros assuntos… o escrito de hoje não vai se debruçar sobre elementos econômicos do universo cervejeiro.

De toda sorte, o texto de hoje se dedica a ser um texto introdutório para um aprofundamento (vindouro) nas técnicas e nas ferramentas de análise sensorial. Um texto posterior que almejo escrever para servir de um guia ou fundamento prático de degustações, aqui mesmo nesse meio de comunicação.

Então, fiquem atentos e também fiquem ligados nos textos subsequentes, que possuirão uma ligação direta e umbilical com as primeiras notas e direcionamentos por hoje postos.

Beber e Estudar ao mesmo tempo, é possível?

É bem provável que ninguém tenha te dito antes. Quando você era criança, provavelmente, sua mãe dizia que nem era possível estudar deitado na cama… Contudo, é fundamental, para uma imersão mais profunda na cultura cervejeira, beber e estudar, de forma conjunta e concomitante, as cervejas.

A propósito, eu mesmo estou degustando uma cerveja nesse exato momento, no mesmo passo em que escrevo e também estudo sobre cervejas. Afinal, para escrever qualquer texto é necessário se ter um mínimo de conhecimento prévio, mas também agregar e estudar sobre o assunto enquanto se escreve.

No contexto dado, soa imprescindível combinar o conhecimento teórico com o prático. Isto é, a combinação necessária para que a cultura cervejeira se consolide, ainda mais, além de outros elementos, depende do aprofundamento em termos teóricos com as famosas hora-copo.

Com efeito, é importante frisar que não deve, ou ao menos, não se deveria ter, um fracionamento ou uma cisão entre aquilo que é lido para aquilo que é bebido. Uma vez que, em termos associativos, é bem mais útil se assimilar aquilo que se estuda (lendo) com aquilo que de fato se experimenta.

As Associações de Visual, Aroma e Sabores no Universo Cervejeiro

Para se ter uma boa degustação cervejeira é imprescindível que o conhecimento teórico seja agregado às horas-copo de forma associativa. Definitivamente, há de se fazer as associações entre os aromas e os sabores da cerveja para que se consiga assimilar os estilos, e, principalmente, a diferença sensorial existente entre os vários estilos.

Da mesma forma como existem vários estilos de cervejas, que variam em aspectos visuais (cores diversas), aromáticos (florais, maltados, lupulados) e de sabores (um espectro gustativo igualmente amplo ao dos aromas), as notas sensoriais aos quais eles remetem também são muito amplas e diversas.

Existem cervejas com aromas e sabores muito peculiares, como, por exemplo, notas caprílicas, que lembram o suor do bode (nessas notas aqui os nobres amigos ruminantes do 22 são campeões, já que conhecem bem Baphomet, ou o bode de Mendes). Então, caso você não seja de alguma zona rural, e seja um menino (ou menina) de apartamento, provavelmente vai sentir a nota mas não saberá associá-la.

Outros elementos sensoriais que passam desapercebidos são aqueles derivados de outras bebidas ou de envelhecimento de cervejas em barris que continham outras bebidas.

Exemplificativamente, é bem comum que algumas cervejas tenham café como adjunto. Todavia, a primeira nota sensorial que remete o senso comum ao café é sua torra, já que é o primeiro ponto a ser notado nos cafés de mercado. Ainda que o mundo do café (especial) seja muito mais amplo, costumamos confundir torra (na cerveja) com notas de café (também na cerveja), algo que não é coincidentemente verdadeiro.

Notas de baunilha e coco, advindas de envelhecimento em barris que continham Bourbon, por exemplo, também não costumam ser facilmente assimiladas ou correlacionadas quando não se conhece bem o destilado americano. Por mais que a cerveja esteja “infestada” de lactona e vanilina, nem sempre, a associação é feita a contento.

Claro que a lista de notas associativas entre os aromas e sabores da cerveja e demais elementos extrínsecos (ou seja, não colocados como adjuntos na produção cervejeira) é muito extensa. Para cada descrição de estilo, seria necessário conhecer uma infinidade de aromas e sabores que não são adicionados a cerveja, mas derivam dela, seja de modo primário, secundário ou terciário.

Sobre tais derivações, deixaremos essas ponderações para os textos ainda no porvir.

O Que Estudar para Degustar as Cervejas?

Se eu estivesse ganhando algum dinheiro escrevendo sobre cervejas, eu diria: compre meus livros, ou meus cursos, ou qualquer outra coisa que eu estivesse vendendo. Mas como a atuação aqui é meramente filantrópica, a recomendação é: leia e estude os guias de estilo.

Claro que não apenas os guias, textos como esse que está sendo escrito também são bastante úteis no sentido didático de dar o norte sobre o que ser estudado, de maneira, mais condensada e específica, pois ajuda a destrinchar alguns elementos que são apenas postos nos guias, sem muita explicação ou contextualização.

Falar sobre “notas fenólicas”, “notas maltadas” ou “notas lupuladas”, sem dizer muito mais do que se trata, como os guias de estilo o fazem, pressupõe uma conhecimento anterior ao que está sendo lido. Ou seja, os guias acabam sendo um texto meramente descritivo e enunciativo, e não um texto explicativo sobre o mundo cervejeiro.

Os guias indubitavelmente devem ser estudados “a seco”, levando-se a ler apenas o que está neles escrito. Contudo, por conta da peculiaridade de eles serem apenas enunciativos ou descritos que também se faz necessário combinar o seu estudo com algumas leituras que incrementem o universo cervejeiro em termos de explicação.

Afinal, não basta apenas ler e não entender. Se não tiver um comentador para destrinchar e explanar a avaliação cervejeira, aquilo que está impresso nos guias de estilo acaba soando deveras abstrato e um tanto quanto sem sentido. Afinal, nem todo mundo tem o conhecimento prévio necessário para compreende-los em sua completude e dinamicidade.

Falando especificamente sobre os guias, atualmente, existem dois grandes guias de estilo: o BJCP (que são as iniciais do Beer Judge Certification Program) e o do BA (ou Brewers Association). Não existe um guia melhor do que o outro, e a maior parte dos estilos é igual para os dois.

O primeiro guia de estilos, o do BJCP, costuma ser mais voltado para o público formado para os cervejeiros caseiros, sendo bastante popular entre eles. Isso não quer dizer que as informações lá contidas tenham alguma imprecisão ou sejam menos relevantes por causa da sua popularidade nesse nicho específico de cervejeiros.

Eu, particularmente, acho o BJCP o guia mais completo e mais detalhado que tem, costumo me guiar por ele em minhas análises sensoriais. Seus elementos descritivos costumam ser mais objetivos e seus parâmetros técnicos mais acurados.

Já o Brewers Association Beer Style Guidelines não possui uma inserção de nicho como BJCP, tendo uma aplicação e aceitação mais ampla na cultura cervejeira como um todo.

Ele costuma ser atualizado anualmente e usa como fonte de compilação as cervejas industriais, análises cervejeiras independentes e também a opinião de experts no assunto, como, por exemplo Chris Swersey, Paul Gatza, Chuck Skypeck, Kaylyn Kirkpatrick, Chris Williams, Andrew Sparhawk, Dan Rabin e Michael Jackson (não o cantor, e sim o jornalista de cervejas). Grandes nomes consagrados no meio cervejeiro!

Os dois guias mencionados são uma das fontes primárias de pesquisa e estudo mais relevantes. Suas descrições e anotações sobre os estilos são fundamentais para que se possa aprofundar o seu conhecimento na cultura cervejeira e conhecer os mais diversos tipos e estilos de cervejas existentes.

O Último Gole

Eu acredito no poder transformador da educação. Somente através da educação é que nos emancipamos e o com o conhecimento assimilado somos capazes de mudar a cultura e o mundo ao nosso redor.

Não é diferente com o mundo cervejeiro e com sua cultura. É necessário que tenhamos cada vez mais elementos educacionais a disposição do público para que o mercado cervejeiro artesanal possa crescer e florescer ainda mais.

Nesse passo, o estudo sobre a cultura cervejeira se faz premente. Contudo, o estudo sobre cervejas (e sobre qualquer outra coisa, eu acredito) não precisa ser um suplício ou um martírio. Eu acredito que o estudo pode ser sempre prazeroso e engrandecedor. Tento escrever de uma forma que cada texto possa se transformar em uma verdadeira aula escrita sobre o tema das cervejas especiais.

Somente estudando mais sobre cervejas teremos o conhecimento necessário para degusta-las em sua máxima expressão e apreciando todos os seus detalhes, inclusive os mais sutis e delicados.

No caso das cervejas, ainda se pode beber e estudar ao mesmo tempo, tem coisa melhor? Um bride aos estudos! E vamos estudar cada vez mais sobre cervejas!

Saúde!

Lauro Ericksen

Escritor, Zitólogo, Cervejeiro, Oficial de Justiça, Doutor em Filosofia e Flamenguista.

Escrevo textos com garantia de bons papos sobre cervejas, críticas embasadas e um toque de ironia.

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