O cenário inédito criado pela pandemia do coronavírus provoca a adoção de novos comportamentos e rotinas, especialmente pela necessidade de realização de uma quarentena para evitar a propagação rápida da doença. E essa situação leva o consumo de bebidas alcoólicas para as residências. Especialistas consultados pelo Guia alertam para os riscos que envolvem o o uso abusivo delas. Mas também avaliam que, moderadamente, a cerveja pode ter efeito relaxante dentro do atual contexto de estresse.
“O consumo de pequenas quantidades tem um efeito relaxador que pode ajudar muito em uma época estressante como esta que estamos vivendo na quarentena. Quando digo ’em pequena quantidade’ estou me referindo a aproximadamente 300ml de cerveja, o que equivale a um taça de vinho”, relata o médico infectologista Alexandre Fernandes Adami.
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De acordo com conceitos antigos da Organização Mundial de Saúde, o consumo máximo de álcool por semana deveria ser de 21 unidades para homens e 14 unidades para mulheres, com cada unidade equivalendo a 10 gramas de álcool. Portanto, a ingestão moderada de cerveja pode ser mais segura do que a de outras bebidas com graduação alcoólica maior. Faria, assim, ainda mais sentido o lema “Beba menos, beba melhor”, bastante associado ao setor de cervejas artesanais.
“O que importa são as gramas de álcool ingerido. Pensando em
pandemia, é melhor , se for optar por tomar algo ocasionalmente, optar por uma
cerveja ou chope, pela menor concentração alcoólica. Mas claro, o mais importante será limitar a quantidade”,
destaca a infectologista Thaluama Cardin.
Da mesma forma, em uma quarentena, que impede as pessoas de realizarem atividades rotineiras e que provoquem prazer, pode até haver algum efeito benéfico, especialmente psicológico, no consumo consciente e moderado de cerveja.
“A tendência é que se tenha um certo relaxamento, o que pode levar à diminuição do estresse, com isso mantendo o eixo hormonal em bom funcionamento e o organismo como um todo”, acrescenta Fernandes Adami.
Riscos do consumo abusivo
O cenário se altera radicalmente, porém, se o consumo de bebidas alcoólicas ocorrer de forma abusiva. Afinal, haverá sobrecarga de vários órgãos do corpo, como o fígado, que metaboliza a maior parte da bebida, gastando reservas do organismo nessa atividade. Dessa forma, o excesso tiraria eficiência dos nossos sistemas e enfraqueceria o imunológico, que perderia eficiência. O resultado seria um corpo mais vulnerável diante de infecções ou de qualquer outra adversidade na quarentena, como enumera Thaluama.
“Os efeitos são diminuição da síntese de albumina, redução da concentração sérica de magnésio, cálcio e fosfato, hipoglicemia, aumento do lactato e da cetona e elevação do consumo de oxigênio. Também tem ação tóxica direta na formação dos granulócitos e, por ação indireta, redução da absorção do ácido fólico e formação inadequada de hemácias”, diz.
Além disso, a presença no corpo do álcool dificulta o combate pelo sistema imunológico dos efeitos de uma infecção viral, ainda mais porque costuma afetar a alimentação e o ciclo do sono. “Quanto mais abusarmos do nosso corpo, maior a chance de ele não responder da melhor maneira possível à um infecção (qualquer que seja) e maior a chance de se ter um quadro grave da doença”, alerta Fernandes Adami.
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A infectologista detalha como o álcool
atrapalha o combate a uma infecção viral. “A resposta imune pode estar comprometida
em diversas etapas nesses indivíduos e a imunodepressão decorre tanto de
alterações nos mecanismos de defesa primários, como do comprometimento da
imunidade celular e humoral. As desordens descritas ocorrem na atividade
mucociliar do epitélio respiratório, no reflexo da tosse, na secreção de
IgA pela mucosa e na diminuição do número de linfócitos, principalmente os
natural killer, que são as células de defesa do nosso corpo”, explica
Thaluama.
E, evidentemente, diante de qualquer suspeita de ter contraído a Covid-19, a ingestão de bebidas alcoólicas deve ser evitado completamente na quarentena. “O álcool atrapalha a atuação de seu sistema imunológico, além de poder induzir desidratação e hipoglicemia. E o indivíduo precisará do seu organismo sadio para enfrentar a infecção”, ressalta a infectologista. “O corpo tem de priorizar, ou ele combate o vírus, ou ele combate o álcool que a pessoa está ingerindo. E, na pior das hipóteses, pode levar a uma doença mais grave”, acrescenta Fernandes Adami.
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